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Reflexão sobre o banquete proporcionado aos assistidos da nossa paróquia

Na sequência da mensagem do Santo Padre a propósito do II Dia Mundial dos Pobres, fomos alertados para as “consequências sociais dramáticas” da pobreza e para a “aversão” aos pobres. Quantas vezes esta realidade nos passa ao lado nos nossos longos dias cheios de preocupações e afazeres maiores? Quantas vezes passamos por irmãos desfavorecidos nas ruas, sem que demos já pela presença deles, tamanha é a sua integração na “paisagem” diária que emoldura os nossos dias? As correrias diárias, o trabalho, os filhos, os hobbies, a meteorologia desfavorável… tudo serve como desculpa para integrarmos esta realidade tão assustadora nas nossas vidas, como algo que já é muitas vezes descrito como sendo “normal”, que “acontece” ou que “infelizmente nunca desaparecerá”.

As consequências nefastas do comportamento da sociedade face a esta realidade acabam por, inevitavelmente, se fazerem sentir: surge a indiferença, muitos duvidam das necessidades sentidas por estas pessoas, enquanto outros preferem simplesmente considerá-las um problema do Estado. Contudo, poucos se lembram que a evolução vivida ao nível dos Direitos e que nos trouxe ao ponto em que as sociedades se encontram hoje, comporta também responsabilidades: independentemente da religião que professemos ou não, temos um dever fraterno de zelar por todos os nossos semelhantes, promovendo ao máximo a equidade, mais do que a igualdade! Apesar de confundirmos estes dois termos, é impossível tratarmos as pessoas de forma igual, pois estaríamos a cometer injustiças: temos sim a obrigação moral de adotar medidas desiguais de forma a compensar as diferenças injustas! Foi neste sentido que o Papa Francisco nos desafiou a organizar um banquete destinado aos mais desfavorecidos, sob a divisa “os pobres comerão e serão saciados” (Sal 22, 27).

Desde logo, tivemos plena consciência de que não seria nada fácil atender a este desafio proposto pelo próprio Deus: a quantidade de assistidos pela nossa paróquia, as condições físicas disponíveis para a realização do banquete, a necessidade de alimentos para a sua confeção e a necessidade de pessoas que se voluntariassem para se juntarem a esta causa eram motivos que nos levavam a desanimar. Contudo, não desiludimos a nossa Fé! No dia 19 de setembro iniciamos as reuniões de preparação deste banquete, muitas delas em noites frias e chuvosas, a meio da semana, onde o lugar mais aconchegado para estarmos seria porventura o sofá de nossa casa e não a igreja. A pouco e pouco construímos um projeto ambicioso, procurando integrar e solucionar as nossas maiores dificuldades, em conjunto, entre Vicentinos e voluntários dos diferentes grupos da paróquia. E assim, passo a passo, chegamos ao dia 18 de novembro, um dia histórico para a nossa igreja.

Num espaço previamente organizado e com toda a logística necessária, após a participação na Eucaristia das 11:30h, recebemos cerca de 50 assistidos da nossa paróquia, com todo o carinho e dedicação possíveis de quem serve como voluntário, sem qualquer formação ao nível do trabalho de restaurante. O menu foi o mais completo possível, com a colaboração de todos os paroquianos que atenderam ao nosso pedido de alimentos para o banquete e com o amor dos voluntários responsáveis pela confeção dos mesmos: entradas, caldo verde, bacalhau à Vicentino, leite creme e uma mesa com sobremesas variadas. A animação também esteve presente!

Seguimos a sugestão do maestro da nossa Eucaristia das 11:30h, que reuniu os grupos corais da nossa paróquia e o Grupo de Cavaquinhos da Alameda do Cedro, que proporcionaram aos nossos pobres um momento de música tradicional portuguesa. Tudo fizemos para que os nossos desfavorecidos se sentissem bem acolhidos na casa de Deus, fazendo mesmo o nosso Papa presente no banquete através de uma imagem sua que dizia “Eu estou convosco!”.

Cansados, com muita coisa para arrumar, mas de coração cheio, saímos do banquete conscientes da grande responsabilidade que ele nos trouxe: por um lado, a de proporcionar aos restantes assistidos da nossa paróquia um banquete nos próximos anos e, por outro lado, fazer presente o calor e a consolação do amor de Deus a todos os irmãos que passam por dificuldades, não apenas na nossa paróquia, mas em todos os locais que cruzamos diariamente nas nossas vidas.

A satisfação e a felicidade daqueles que poucas vezes têm muito é o motor que nos dá Fé e Esperança de que no futuro mais iniciativas destas irão certamente acontecer. Um simples “obrigado” de quem nada tem, enche de felicidade o coração daqueles que se voluntariam para ser obreiros de Deus e colocar em prática o seu Evangelho. Afinal, foi o próprio Jesus que nos disse, “Se eu, o Senhor e mestre, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns dos outros” (Jo 13,14). Um bem-haja a todos os paroquianos que acolheram o nosso pedido de alimentos e a todos aqueles que se voluntariaram para que esta iniciativa fosse possível.

23 de Novembro de 2018

Texto da responsabilidade de uma voluntária desta Conferência Vicentina.